31 dezembro 2008

Lacrimejando

Lágrimas caem-lhe dos olhos, escorrem pela cara. Diamantes... asim parecem esses olhos brilhantes pelas lágrimas.

Por detrás dessse brilho existe uma alma perfurada pela dor, vezes sem conta... o sorriso, o bom-humor, as brincadeiras e a ironia fazem parte de uma tentativa de fuga. Tentativa frustrada!

Só ela sabe da dor, a sua dor. Egoísta sim, por não compartilhar, por não mostrar, mas porquê ela faria isso? As palavras que lhe saem da boca acabam se esbarrando de supetão num muro de ética. Ética unilateral!!

Sempre ouviu dizer que o amor move montanhas, pobres dos que amam demais pois para além de moverem montanhas, atravessam oceanos e acabam sós.... sós.

Mas mesmo nessa solidão, ela agarra-se a uma réstia de esperança e continua á espera. Por mais consciência que ela tenha de que está a perder tempo numa espera infinita, ela por aí continua dia após dia...

E as lágrimas?? Essas continuam o seu caminho...

Meu País Inventado


Um dia cinzento igual a tantos outros.

O rio Tejo segue o seu curso em direção ao Atlântico. De um lado, a ponte 25 de Abril e do outro, perdido por entre a névoa, a Ponte Vasco da Gama.

Sentada á beira do rio, ela segue, distraída, as ondinhas do rio se quebrando a seus pés.

Ao longe, ela mais não é do que uma mancha vermelha, devido ao anorake vermelho, vestido com o objeivo de lhe empresar alguma cor... algum calor.

Estremecendo de frio, ela vê os primeiros flocos de neve, em Lisboa, desde 1955.

Silenciosamente esses flocos flutuam na sua frente, prendem no seu anorake, a boina também não escapa, e nem mesmo os cabelos.

E, para ela, o mundo pára...

E rodopia, rodopia, dança rodopiando pela neve. E viajando perdida no tempo e na memória ela brinca, ri, escorrega, cai, levanta-se e por aí continua...

Nesse exato momento ela vive no seu país inventado.

02 dezembro 2008

Negro

Apeteceu-me escrever sobre o movimento negro, e não poderia deixar de falar sobre Martin Luther King, um dos maiores nomes mundiais do século XX. Nascido nos Estados Unidos (Atlanta, Geórgia) em 1929, empenhou-se numa campanha a favor dos negros (EUA, um dos países mais racistas), reclamando pelo direito ao voto, pelo fim á segregação, ao racismo e á discriminação, e foi também activista pelos direitos humanos "básicos", neste aspecto tanto para os negros como para as mulheres. Fez campanhas em prol da causa defendida, foi perseguido, ameaçado e preso, mas não perdeu a fé. Quem ainda não ouviu o tão famoso discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho)?

"Existem aqueles que perguntam aos devotos pelos direitos civis: “Quando estarão vocês satisfeitos?” Nós não podemos estar satisfeitos enquanto o Negro é vítima dos horrores inexplicáveis da brutalidade policial. Nós não podemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos fatigados de viagem, não possam descansar em motéis nas vias principais ou hotéis das grandes cidades. Nós não podemos estar satisfeitos enquanto as idas e vindas de negros sejam de pequenos guetos para guetos um pouco maiores. Nós não estaremos nunca satisfeitos enquanto os nossos filhos forem impedidos na sua individualidade e dignidade em freqüentarem locais “For Whites Only” (Só para brancos). Nós não podemos estar satisfeitos enquanto o Negro no Mississippi não possa votar e o Negro em Nova Iorque acreditar que não tem motivos para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos, e não estaremos satisfeitos até que “a justiça corra como as águas, e direita como o córrego de um rio.” "

È impossivel escutar o discurso e não se emocionar, sendo negro ou branco. Sem dúvida um discurso tocante!!!

O discurso de Luther King ainda é atual e se encaixa no mundo de hoje. Outra cara/personagem que se tem destacado igualmente nos EUA, Barack Obama. Atualmente o 44º presidente dos EUA.

Analisando um discurso de Obama, na Filadélfia, no início da sua campanha, encontramos pontos em comum com o de Luther King: a questão racial.

Tal como Luther King, Obama diz que a declaração de independência dos EUA “que acabou por ser assinado, tinha ainda a mácula da escravidão, o pecado original da nação e uma questão que dividiu as colônias e causou impasse na convenção até que os fundadores optaram por permitir que o tráfico de escravos continuasse por pelo menos mais 20 anos, deixando qualquer solução definitiva às futuras gerações”.

O discurso continua alegando que já a declaração de independência “tinha por cerne a igualdade dos cidadãos perante a lei, uma constituição que prometia ao seu povo liberdade, e justiça, e uma união que poderia e deveria ser ainda mais aperfeiçoada ao longo do tempo. No entanto, palavras em um pergaminho não seriam suficientes para libertar os escravos de seus grilhões, ou oferecer a homens e mulheres de todas as cores e credos seus plenos direitos e obrigações como cidadãos dos Estados Unidos. Foram necessários norte-americanos de futuras gerações que se dispuseram a fazer sua parte – por meio de protestos e luta, nas ruas e nos tribunais, por meio de uma guerra civil e da desobediência civil, e sempre sob grande risco – a fim de reduzir a distância entre aquilo que nossos ideais prometiam e a realidade de nossa era.”

E é se propondo a continuar com essa luta por um país mais justo e igualitário que Barack Obama conseguiu se eleger. Atenção: não digo com isto que toda a campanha de Obama se tenha baseada na questão racial. Durante a sua campanha, Obama ressaltou a igualdade entre as raças, assim como Luther King, e não a superioridade negra.

Mas por que será que 58 anos depois do primeiro discurso, ainda se discutem as questões raciais?? Será por as metas não terem sido atingidas??

Os negros continuam sofrendo perseguições e sendo segregados, continuam igualmente sendo vítimas do racismo, não só nos EUA, mas em qualquer parte do mundo. Continua igualmente, em muitas sociedades, a ligação entre o negro e um burro-de-carga, sendo difícil “destrinçar” a idéia de negro e escravo. (curiosidade: a História diz que no Egito Antigo, assim como na Grécia e Roma, já existiam escravos, mas em nenhum momento se fez alusão ao fato de que os escravos eram somente negros, até porque várias outras etnias e povos faziam parte dessa “classe social”).

Esses dois negros fizeram e fazem História ao se posicionar a favor de uma sociedade igualitária, onde brancos e negros tenham direitos e deveres iguais. Já era o sonho de King ao proferir: “I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character” (“Eu tenho um sonho que os meus quatro filhos, um dia, viverão numa nação em que não serão julgados pela cor da pele mas pelo caráter”). E continua com: “… One day right there in Alabama little black boys and black girls will be able to join hands with little white boys and white girls as sisters and brothers” (“…Um dia, no Alabama, pequenos meninos negros e meninas negras poderão juntar as mãos com pequenos meninos brancos e meninas brancas, como irmãos e irmãs”).

È pena ver que o racismo encontra-se de tal forma enraizado em determinadas sociedades, que arrancar essa “erva daninha” torna-se um trabalho árduo. Iniciado com o movimento abolicionista entre os séculos XVIII e XIX, a igualdade entre raças tem, até hoje, papel relevante contexto mundial, a nível social. Todo o percurso de ativista e defensor da igualdade, de Luther King foi uma continuação desse processo iniciado há dois/três séculos atrás, e essa mesma luta com que se deu início á campanha de Obama. E é essa mesma luta que todos nós devemos levar para frente, por uma igualdade entre raças.

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