15 julho 2008

União

E as bocas se uniram. As línguas se entrelaçaram.

O corpo dela arqueou-se pedindo o toque de suas mãos e a união dos seus corpos.

E ele tocou-a. Colou-se a ela.

Fê-la sentir-se poderosa e levá-la aos céus.

E tocando-a ele se fez homem e tornou-a mulher.

08 julho 2008

Refúgio


Com a cabeça dele no colo, ela tenta reter na memória cada traço daquele rosto, que, com os olhos fechados, se torna inocente.

Os dedos afagam os cabelos. Negros.

Negros. Cacheados. Encaracolados.

Com esses mesmos dedos, ela desenha as sobrancelhas, o nariz, os olhos, a boca. Cada traço daquele rosto é retido. Aprisionado na sua memória.

Momentos como aquele são únicos, e mereciam ser recordados.

E é enquanto percorre aquele rosto com os seus dedos, que ela relembra os poucos momentos em que passaram juntos.

Um sorriso casto. Um olhar brilhante, intenso mas suave. Uma mudança imperceptível mas visível.

Palavras ecoando na sua mente: "Você é o meu refúgio..."

E é isso que ela é. O refúgio de um exilado da vida.

O que será que ele procura? Será que encontrou?

Momentos em que estavam juntos, sempre poovoados por conversas diversas, e onde o silêncio jamais era incómodo.

E era disso que ela mais sentia falta: num ônibus barulhento ou na solidão do seu quarto. Sentia falta desses momentos em que parecia que tudo se encaixava.

E aprofundando, penetrando o olhar em sua alma, ela sente a falta de alguém que seja para ela, o que tem sido de muitos.

Ela sente a falta de alguém que llhe afague os cabelos, que a abrace sem ter que pedir ou que lhe beije sem ter porquê. Que a eleve aos ceús fazendo-a sua.

Ela também precisa de um refúgio, de um cantinho onde lhe seja permitido ser ela mesma.

"Meu bem, você está chorando?"

E ela se dá conta que lágrimas escorrem pela cara, mas rapidamente são limpas.

"Não, meu bem. Não se preocupe, está tudo bem."

Não!! Não está tudo bem, apetece-lhe gritar.

Apetece-lhe aconchegar-se no seu corpo, chorar, ser mimada, abraçada, beijada... amada.

Mas ela simplesmente sorri. E sorrindo de volta, ele fecha os olhos e aconchega-se no seu refúgio, no colo de mais uma exilada.

Uma exilada do amor.

A Outra

Ela é a outra de vários. Todos a querem. Beijam os seus pés. Bebem as suas palavras e comem a sua alma. Tomando tudo e não dando nada. Levando um pedaço dela e deixando um vazio.

Saudade. Insatisfação

Deixando na boca um gosto agri-doce. Amargo. Gosto de "quero mais". E a certeza de saber que não poderá pedir ou exigir mais do que lhe é dado.

Receando ser olhada como mais uma, ela esconde-se atrás da cortina da independência. Para o mundo, ela é independente, senhora de si. Nada a afecta. Cheia e convicções e certezas.

Mas só ela sabe de quanto sente a falta de um romance, no verdadeiro sentido da palavra. Falta de ter alguém que seja só dela, que a entenda. Que a complete.

Na realidade, ela vive num mundo de conto de fadas, num patamar diferente da realidade. Idealista. Esperando por um príncipe que nunca chegará. Disso ela sabe, mas a esperança é uma chama que ela mantém acesa.

Quantas vezes ela já se apaixonou? As contas estão perdidas num emaranhado de experiências.

Já amou em silêncio, aos berros para todo o mundo ver e ouvir. Mas a verdade é que das vezes em que amou, nunca soube aproveitar na íntegra tudo o que lhe era oferecido.

E agora ela é uma mulher aprendendo a viver uma realidade. Tentando recuperar o tempo perdido.

03 julho 2008

Sonho


É incrível a necessidade que por vezes assalta um ser hmano para escrever. Escrever sem saber o quê, sem saber porquê ou para quem.

Deitada confortávelmente num colchão de solteiro, puído pelo tempo e roído pelas traças, ela escreve. Escreve deixando a caneta escorrer pelo papel, tentando não pensar no que vai escrever a seguir. Mas de repente ela pára. Pensativa, olha pela janela e só vê a escuridão.

Escuridão. Noite.

Noite. Sono.

Sono. Sonho.

E é sonhando que ela, finalmente, se liberta das amarras da solidão e das correntes da memória.

É sonhando que lhe é permitido fazer o impossível. Tudo lhe é permitido.

É-lhe permitido voar. Voar até ao inimaginável.

É-lhe permitido voltar atrás no tempo e corrigir os erros do passado.

E acima de tudo, é-lhe permitido amar. Amar de maneira completa, de maneira sublime, ingénua e inocente.

E aí continua ela deitada, cabeça repousando sobre o braço. Os olhos delicadamente fechados, a boca levemente entreaberta. Respiração regular.

Calmaria.

Serenidade.

O corpo levemente encolhido.

Sensualidade.

Uma sensualidade inocente, pura, virginal.

Mas nem tudo é calmo.

Essa aparente calmaria é, simplesmente exterior. Por dentro, no seu íntimo, o inconsciente trabalha a todo o vapor, permitindo-se a anarquizar todo e qualquer sentimento.

Querendo ou não, ela vê-se nos braços de um desconhecido, numa cama desconhecida, num quarto desconhecido de uma casa igualmente desconhecida. E o pior/melhor, numa vida desconhecida.

Essa vida? A realidade.

Sonhando a realidade de um sonho real.

Uma alma perdida

Perscrutando a minha alma e só encontrando a solidão, o silêncio. Vazio

Procurando um objectivo e, de novo, o silêncio. Um silêncio cheio de contradições.

Querendo tudo e nada, todos e ninguém.

Querendo o silêncio de um amigo e a sua conversa desgovernada.

Sair para a rua e ficar em casa.
Trancada. Prisioneira
Prisioneira de mim mesma.

Perdida num mundo cheio de nada e vazio de tudo.

Solidão de uma alma.

Sede de uma vida

Saudade de um passado recente ou não tanto assim.

Ser de todos e de ninguém, sequer da própria.

Andando por aí sem destino ou objectivo.

Querendo hoje o que poderei não querer amanhã.

Frágil.
Fraca.

SÓ...

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